O Alho: um amigo no nosso prato


Vou falar do alho mais uma vez! Condimento tão usado na nossa gastronomia, nem damos o devido valor ao que colocamos no prato.

Tradicionalmente, o alho é empregue em constipações, utilizado picado sobre uma tosta com mel e acompanhado com uma infusão quente. Apresenta propriedades anti-sépticas usadas em diversas situações além das constipações e gripes. É aconselhado também para prevenir afecções cardiovasculares: redução das concentrações sanguíneas de LDL e dos triglicéridos, redução da tensão arterial, inibição da agregação plaquetária (evita formação de coágulos).

As múltiplas propriedades que o alho apresenta são devidas à presença dos seus compostos, sobretudo os sulfurados. De facto, identificaram-se já muitas dezenas de fitoquímicos bioacticos (compostos químicos presentes naturalmente nas plantas), sendo a concentração dos compostos sulfurados 3 vezes superior a outros alimentos também ricos nestes compostos, como a cebola e os brócolos.

Alguns destes compostos e as suas actividades biológicas possíveis e em investigação:
Sulfurados
-Aliina                                   - hipotensora, hipoglicemiante
-Ajoeno                                 - prevenção de coágulos, vasodilatador, hipotensor
-Alicina e tiossulfinatos        - antibiótica, antifúngica, antiviral
-Sulfeto dialil                        - hipocolesterolemiante

Não sulfurados
-Fructanos                     - cardioprotectora
-Quercetina                   - anti-alérgica
-Ácidos fenólicos         - antiviral e anti-bacteriana
-Selénio                        - antioxidante



A redução dos níveis de LDL é devida à acção dos compostos sulfurados que têm acção antioxidante. Os flavonóides quercetina e campferol apresentam igualmente esta actividade, aumentando todo o potencial anti-radicais livres do nosso organismo.

Vários estudos científicos têm demonstrado que estes compostos sulfurados apresentam actividade anti-cancerígena em diferentes tipos células e tecidos. O alho é dos poucos alimentos onde se encontra germanio. Este mineral tem propriedades preventivas de cancro assim como o selénio que o alho também contém. Os mecanismos de actuação deste alimento como preventivo e sobre células cancerígenas ainda não é bem conhecido.

Ao nível do fígado, a glutationa-s-transferase é uma enzima que actua na destoxificação de muitos compostos cancerígenos. Compostos que aumentam esta enzima têm a capacidade de inibir o processo carcinogénico em muitas células e alguns dos compostos sulfurados do alho estimulam a sua actividade.

Por outro lado, a acção antioxidante também é outro factor interveniente neste processo, pois a diminuição da libertação e da acção dos radicais livres diminui igualmente a acção destes sobre as células e o DNA, cujo resultado seria aumentar o potencial cancerígeno. O elevado poder antioxidante do alho também intervém de modo protector neste processo.

Por último, para colher o máximo de benefícios que este alimento pode fornecer é importante consumir o alho crú, pois cozinhado parte dos seus compostos activos perdem actividade. No entanto, não deixe de o utilizar também nas preparações culinárias onde acrescenta sabor e muitos dos seus outros compostos de efeito terapêutico.

O inconveniente da ingestão de alho crú e do seu uso tópico é o forte odor que se liberta através do hálito. Existem no mercado formulações de alho em que este inconveniente é minimizado. As formulações de alho envelhecido têm apresentado muitos dos seus benefícios sem a presença do odor característico.

Num artigo próximo irei desenvolver a actividade anti-microbiana do alho.

Até lá, coma muito alho crú e cozinhado! Bom apetite.



Bibliografia para aprofundar:
http://www.esalq.usp.br/siesalq/pm/alho_revisado.pdf
https://www.researchgate.net/publication/26500024_Pharmacological_Effects_of_Garlic_Allium_sativum_L

Comentários

Mensagens populares