Desintoxicação vs Destoxificacão

Estamos quase no Verão e naquela altura do ano em que muito se fala em detox e desintoxicar, sobretudo com a ideia de libertar dos excessos de inverno e de alguns quilos a mais na balança. No entanto, será que o termo certo é desintoxicar?

O que pretendemos afinal?

Desintoxicar é o termo relacionado a libertar o organismo de uma toxicidade, como é o caso da desintoxicação alcoólica (na alcoolémia) ou desintoxicação de drogas (na toxidependência).

Destoxificação tem um carácter mais genérico e refere-se ao conjunto de processos metabólicos que acontecem essencialmente no fígado com o fim de inactivar substâncias que podem ser prejudiciais para o organismo, quer elas tenham uma origem interna quer externa, mas também à sua eliminação através de vários orgãos, a que chamamos emunctórios.

De qualquer forma, a ideia geral é a de libertar o organismo de algo que o prejudica.

Esta toxicidade geral (ou específica no caso de adicção alcoólica ou de drogas) é que está na base da ideia de destoxificar. Vou apenas debruçar-me sobre a toxicidade num conceito mais geral. Se há toxicidade é porque há "toxinas". Donde é que elas podem vir?

Em primeiro lugar o que é uma toxina?
Toxina é uma substância que é prejudicial ao nosso organismo. Especificamente, consiste numa substância que vai gerar um envenenamento (álcool, fármacos, drogas, alimentos). De um ponto de vista mais genérico, consideramos qualquer substância que pode ser prejudicial se ela se acumular demasiado no organismo.

Esta toxicidade tem duas origens distintas: uma é interna e outra externa. Fisiologicamente, o nosso metabolismo produz diversas substâncias prejudiciais como radicais livres, certos ácidos orgânicos, ureia, entre outros. Resultam da degradação de compostos diversos, células envelhecidas, combate a microorganismos, excreção de moléculas tóxicas do interior das células e dos tecidos, etc. O stress aumenta a formação destes e de outros compostos igualmente tóxicos. Pode ainda haver algumas alterações genéticas (casos mais raros) que possam impedir ou dificultar a degradação ou eliminação de alguma substância e esta acumular-se. Em todos estes casos estamos perante uma toxicidade interna.

A poluição do ar, da água e nos alimentos (metais pesados, pesticidas, herbicidas e fungicidas, aditivos vários da indústria alimentar e produtos que migram das embalagens para os alimentos), o consumo de fármacos e/ou de drogas, todos eles são fontes de substâncias que apresentam um certo grau de toxicidade para o organismo e dos quais este tem de se libertar, eliminando-os directa ou indirectamente. Estas são as fontes externas de toxicidade.

No seu conjunto, as toxinas internas mais as externas, constituem a denominada carga tóxica. Significa o que o organismo tem de enfrentar para manter todas estas substâncias em valores controlados e não prejudiciais.

O nosso organismo tem meios fisiológicos para eliminar a maioria das "toxinas", desde que a sua capacidade de destoxificar e eliminar não seja ultrapassada. Este equipamento natural inclui enzimas, como as citocromo-oxidades (a mais interveniente é a P450), a glutationa, a catalase, etc.

O problema surge porque nos dias de hoje a carga tóxica a que o organismo está sujeito é superior às suas defesas naturais. É por este motivo que as toxinas se acumulam e podemos necessitar de auxiliar o organismo a se libertar deste excesso potenciando as suas capacidades.

Os processos de destoxificação têm a ver com fornecer ao organismo os meios para que as suas funções possam ser aumentadas. Não criamos funções novas no organismo; apenas podemos potenciar as que já existem.

Voltarei a este tema em próximos artigos.

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